quinta-feira, 15 de abril de 2010

A impelida aposentadoria do controle remoto



Meu primeiro emprego foi em 2005 numa produtora de vídeo chamada Berimbau Filmes. Comecei a trabalhar simultaneamente ao inicio da minha graduação acadêmica em Publicidade e Propaganda. Na produtora de vídeo produzíamos todos os tipos de manipulação em imagem de vídeo como, por exemplo: edição de reportagem, filmagem externa, documentário, propaganda em estúdio, teste de elenco para novelas e autoração de DVD. Essa ultima me chamou atenção absolutamente, pela versatilidade que o instrumento DVD oferecia. Pela etnologia a sigla DVD significa – DIGITAL VERSATILY DISC ao contrario do que pensam muitos DIGITAL VIDEO DISC.
Desde criança eu sempre tive a mania de assistir televisão controlando os canais a partir do controle remoto, para mim, até hoje, é satisfatória a ideia simples de mudar de programação na iminência do meu desejo, seja pelo incomodo do conteúdo que esteja sendo exibido ou pelo simples prazer de procurar alguma programação mais interessante. Por incrível que pareça, eu não assisto muito TV, a não ser quando são transmitidos esportes, ou algum documentário interessante. Me atrai muito mais, a mobilidade da internet, a qual permite pela interatividade do mouse, abranger e escolher uma seleção de conteúdos imaginariamente infinita. No entanto, ainda com toda revolução digital e interativa da internet, continuo um adorador do controle remoto, e esse é um dos motivos para que eu esteja me especializando em Publicidade e Propaganda.
Em 1995 quando a Sony lançou o DVD, se iniciava ali uma revolução tecnológica que para mim se resumia novamente a um mais amplo e melhor controle remoto. Quando criança eu e meus irmãos éramos levados pelos meus pais a uma locadora, onde iríamos locar aquele filme em VHS que tinha acabado de ser lançado. As opções eram escolher levar o filme entre dublado e legendado. Conseqüentemente nas capas das fitas vinha o – AVISO IMPORTANTE: re-bobinar a fita, ter cuidado para não amassar a fita com os cabeçotes desalinhados. Se caso acontecesse pagaria-se uma multa por danos materiais.
Com a invenção do DVD esse pesadelo acabou para a minha e para milhares de famílias. Hoje podemos escolher um DVD com vários até 5 idiomas, dezenas de linguagens de legendas, até 32, podemos definir o melhor ângulos da mesma imagem, slide show de fotos, sub-menu com opções de cenas separadas, dentre outros recursos os quais são controlados pelo bom controle remoto. Enfim, na produtora pude ver como tudo aquilo funcionava na pratica. Fui me especializar na DRC, uma escola de vídeo digital em São Paulo – SP, fiz o curso de autoração de DVD e até hoje continuo trabalhando nessa área.
Outro dia em minha maravilhosa e querida Salvador, por volta de 13:00, em alguma obstinação, batendo perna pela região da Avenida Sete de Setembro e Rua Carlos Gomes, por um daqueles becos ali, se não me engano foi no Beco das Quebranças ou foi na Beco do Cabeça? Não me recordo o local exato, mas foi por ali. Lá me deparo com uma cena intrigante, mas que qualquer cidadão resolveria. Em um Bar-restaurante cheio de pessoas as quais estavam na hora do almoço, que para mim é um momento de se alimentar e refocilar-se para o restante do dia de trabalho. No entanto, estavam aqueles cidadãos, homens e mulheres em sua maioria vendedores das lojas de varejos de eletrodomésticos, em seu horário de sagrado, assim já considerado na nossa cultura, sentados nas mesas postas nas calçadas, todos eles virados na direção de uma televisão, a qual lhes chamavam mais atenção do que seus próprios pratos, com os alimentos já frios e insípidos, diante das imagens que assistiam na TV.
Dentre os deprimentes telespectadores, estava o dono daquele estabelecimento comercial, um senhor, o mais sábio dentre todos eles que estavam ali. O velhinho pegou o controle remoto para mudar de canal, quando fora, com afinco, advertido por um dos clientes.
- Se o senhor mudar de canal não venho mais aqui!.
Seu Durval, o proprietário daquele refeitório, foi advertido em coro novamente.
- Não mude de canal não seu Durval, a reportagem está massa.
- Quero assistir a reportagem sobre o Ypiranga. Diz ele sem ser entendido.
A vontade de seu Durval emanava porque o Ypiranga, time 10 vezes campeão estadual e ainda com imensa torcida,  voltava ao futebol Baiano depois de muitas décadas apagado.
Mas a dita interessante reportagem, exibia uma matéria policial, onde os agentes retiravam um cadáver de um homem, cujo estava cheio de furos de bala e já em decomposição, de dentro de um canal de esgoto.  Naquele momento nem seu Durval nem eu, entendíamos porque aquelas pessoas, tão acomodadas, conseguiam ver aquilo bem na hora do almoço e o pior, saiam daquele local sem repugnância depois de comer aquela comida fria, as vezes já com moscas em cima, que ligeiramente eram tangidas para que se fosse dada as garfadas finais naquele alimento.
Naquele dia, ainda andando pelo centro da cidade, entendi, mais do que nunca, que a tecnologia era muito mais importante para seu Durval do que para aquelas dezenas de jovens ali sentados, muitos deles vendedores de TV, DVD e Computador, reunidos em volta da televisão. Ainda andando pelo centro da cidade, vaticinei com indignação.

- Inutilizarão o controle remoto!

Um comentário:

  1. Lucas, morando no Centro, revivi a cena tão bem escrita por vc, é extamente por aí. Pessoas achando natural a miséria do submundo.

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