segunda-feira, 5 de abril de 2010

Páscoa Transfigurada

Era madrugada do dia 2 de abril de 2010, eu estava em Santo Antonio de Jesus, saudosa e querida cidade. Lá fora fazia aquele frio de bater o queixo percebido quando abri a janela da sala. Eu acordo escutando rezas, com uma voz sentimental, poética e lírica em primeiro plano. Ainda sonolento penso estar sonhando enquanto a voz dizia “abra a porta para Jesus.” Levanto-me imediatamente e como de costume percebo que é a procissão de Sexta-Feira Santa, ou Sexta-Feira da Paixão de Páscoa. Abro a janela e olho lá fora, somente escuto as vozes sincronizadas e o barulho da chuva, me orientei por aquele timbre característico de procissão que a celebração vinha da avenida localizada aos fundos da minha residência. Esperei mais um pouco, ansioso para ver a procissão passar, assim como fazia desde criança, quando acordava com meus pais me convidando a ver a procissão passar.
Surgem no cruzamento as primeiras cabeças, em seguida na praça mais visível de minha janela, e observo, enfim, a bonita celebração, muitas pessoas, guiadas pela voz de um Padre da Igreja Católica e sua comitiva de ministros e outros membros da Igreja. O canto poderoso era amplificado pelos alto-falantes potentes instalados em cima de uma Kombi. Em seguida, vejo as pessoas, na chuva todas elas agrupadas em um ritmo só, assim como suas vozes, se protegendo com guarda-chuvas nas mãos, o grupo andava rápido carregando uma Cruz, assim como Jesus fez. Ali se emanava o sincretismo religioso.
Volto a dormir... Quando acordo, vejo uma mesa farta típica de minha casa, com caruru e vatapá, peixe de rio e peixe de mar, bacalhau, badejo e miraguaia dentre outros quitutes que só de lembrar, da água na boca. Junto à confraternização de minha família, à hora de se alimentar e sentar junto aos meus entes para uma prazerosa conversa é o que eu mais prezo e gosto nessa época do ano.
Depois do almoço, desço um lance de escadas, e vou conversar com minha Avó e meu padrinho e tio. Ambos católicos veteranos e assumidos. O assunto em evidência era sobre a anglicana sazonalidade religiosa. Conversamos sobre diversos assuntos do segmento, como tema, a superficialidade das crianças, as quais sem educação familiar de base, só querem se encher de ovos de chocolate “colocados por coelhos”. Discutimos os confrontos entre Israel e Palestina, a tentativa da soberania Judaica naquela região e suas conseqüências geradas. Abordamos o conhecimento da sociedade que em sua superficialidade só se embriaga para aproveitar o feriadão. Identificamos a falta de conhecimento religioso, mesmo acreditando ou não sobre a religião, a qual gera o então feriadão. Chegamos ao fim de uma conversa diletante, entre entes de gerações diferentes, com o senso comum de que é preciso conhecer ao menos, para se viver todo e qualquer momento sazonal, e não cair na armadilha da mediocridade cultural, em que a mercadologia surge como grande e única explicação, porto seguro, tão mentira quanto o coelho botar ovos, para a existência do tão bom feriadão.

Um comentário:

  1. Valores foram mudados, meu caro... Mas segundo a música: ainda somos os mesmo e vivemos como nossos pais...

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