sábado, 12 de junho de 2010

O DERRADEIRO MERGULHO




É mais comum do que se imagina e queira ver, presenciar cenas de absoluto desrespeito com os deficientes físicos no Brasil. Pessoas portadores de dificuldades, principalmente na locomoção, sofrem com a ardente falta de educação e de humanismo da sociedade.
Por exemplo,  ser ajudado para abrir uma porta, não precisar ter uma ressalva marcando lugares apropriados para deficientes, onde se deveria sim,  ter por consciência coletiva a prioridade nesses locais como estacionamentos, transportes públicos, universidades ou em qualquer local público, priorizando sempre o respeito e compreensão aos deficientes físicos.
Em uma sociedade formada de seres humanos o que se vê é a maior compreensão mas o que existe é uma heresia ao ser humano. São utilizados os mais diversos abusos depreciativos que agridem a integridade física e moral de uma outra pessoa com dificuldades físicas e também aos que não são deficientes.
Mas com que intuito? Isso é alguma forma de diversão ou entretenimento?
Segue o conto.

Em Salvador na década de 1980 Felipe e Léo eram os melhores amigos, ambos tinham 14 anos de idade. Todos os dias eles se reuniam com outros garotos e garotas do bairro para jogar bola, capoeira, mergulhar no mar da cidade baixa, pescar, namorar... estavam sempre um na casa do outro, juntos em ambiente familiar, parecendo serem mais irmãos do que amigos.
Num domingo pela manha Felipe foi chamar Léo, que dessa vez estava de castigo por ter ameaçado bater em outro menino do bairro. Com um assovio peculiar Felipe avisou ao Léo que estava pelas redondezas esperando a fuga do parceiro para mais um dia de diversão. Léo por sua vez, estava dentro de casa esperando a oportunidade iminente da sua mãe virar-lhe as costas para conseguir zarpar.
Para sua sorte chegou uma visita, o que distraiu o olhar de senhora por uns instantes. Foi quando como um saltador de obstáculos olímpicos, Léo pulou a janela e seguiu com seu melhor amigo e outros jovens do bairro para um domingo de maratonas com alegrias e tensões que marcariam para o resto de  suas vidas.
A primeira parada foi na Sorveteria da Ribeira, até então sem o sistema de caixa, onde não precisava pagar antes para pegar o sorvete. Os meninos abusavam dessa brecha para tomar quantos sorvetes quisessem, antes de correrem uns cinquenta metros perseguidos pelos seguranças gordos da sorveteria, o que não era esforço nenhum para maratonistas como aqueles adolescentes.
O segundo ato foi pegar um ônibus que os levariam da Ribeira até a praia de Itapoã. Era o local preferido para garotos daquela idade. Logo escolheram uma pedra ao lado do farol para pular de cabeça no mar. Eram lindos saltos dignos de olimpíadas. Os melhores já vistos por expectadores na sua maioria estrangeiros que não conheciam a híbrida junção da ginga da capoeira com a alegria em se divertir das crianças.
No meio daquela platéia estava um técnico de ginástica olímpica da Suíça. Imediatamente se interessou e com o consentimento da família que incentivou a ida de Felipe para a Europa afim que ele se tornasse no futuro um grande atleta. Não queriam perder aquela oportunidade.
Passaram-se alguns anos e um dia Léo resolveu pegar o ônibus e fazer aquela aventura relembrando os bons momentos com o amigo. No trajeto o motorista que tinha consumido muita bebida alcoólica, não se preocupava em dirigir, a atenção dele se voltava para agredir os casais que passavam ao soltar piadas sem graça para as mulheres acompanhadas. Sem atenção no que deveria estar fazendo ele provocou um terrível acidente o que infelizmente lesou a coluna do garoto Léo agora com 18 anos de idade e paraplégico.
O diagnostico para o jovem foi uma morte pressagiada. Sem as alegrias que suas pernas lhe dava ele passou a sentir nostalgia de suas lembranças. Depois de tantos dias de tristeza por ter uma deficiência física que limitava o que ele mais sabia fazer que era ser criança, ser feliz, agora infeliz Léo era regado a perturbações como ser chamado de aleijadinho e de muita solidão.
Certo dia Léo toma uma atitude infeliz e trágica. Com muitas dificuldades o garoto conseguiu chegar numa sacada em que sempre pulava no mar com seus amigos na infância. Daquele local dava um belo mergulho. Paraplégico ele pensou em se jogar. Naquele momento chega seu melhor amigo Felipe, como um anjo da guarda, como não se viam ha muitos anos, Felipe não perde tempo e lhe faz um convite para irem curtir um dia de maratonas eles seguem correndo juntos como antes, quando jovens, para a derradeira aventura olímpica.

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