sexta-feira, 12 de março de 2010

OLHOS, JANELA DA ALMA? - Sobre o documentário "Janela da Alma" e outras reflexões, por Bruno Ribeiro

O homem é um ser enigmático, complexo e incompreensível. Enquanto faz-se o maior dos questionadores, é também o maior dos alvos de questionamentos. Entender a natureza humana é algo que está além das fronteiras da ciência e por isso artistas e filósofos derramam-se em palavras para esboçar uma teoria sobre que pode haver dentro de cada indivíduo.

Independente do que exista (ou não) no interior de cada ser humano , diz-se por aí que os "olhos são a janela da alma". E o Homo sapiens, como imagem tão curiosa e peculiar que é, transfigura em seus olhos as mais diversas linguagens de subjetividade. Um olhar pode ser intransitivo e bem definido, possuindo por si só o sentido completo da mensagem ou pode concretizar, de fato, a idéia indescritível.

Contudo, como se pode contribuir tamanha simbologia ao órgão da visão a ponto de defini-lo como o canal para o sublime, para a alma? Isso significa dizer que pessoas com deficiência visual não interagem em sua essência com o mundo externo, e este não pode afetar seus sentimentos e atitudes? Com toda a certeza, a reposta é não.

O corpo físico pode ser medido, enquanto o imaterial e o abstrato não podem de fato. Mas, se pudéssemos colocar ambos em lados opostos de uma balança, certamente chegaríamos à conclusão de que o que não pode ser medido é, na verdade, muito maior. E tamanha magnitude não poderia limitar-se apenas a "olhos" em seu sentido denotativo e convencional.

A maneira como alguns deficientes visuais transbordam personalidade, caráter e competência contrariam a idéia de que "os olhos são a janela da alma", ou no mínimo, a única janela. A superação de barreiras que parecem "fechar as portas" vem para aqueles que definitivamente possuem sonhos e determinação, e sabem transformar a "cegueira" em uma nova maneira de se enxergar os mundos físico e abstrato. Afinal, a alma não possui apenas uma simples janela: ela se permite esvair pelos gestos, atitudes e palavras de uma pessoa que age, verdadeiramente, com o coração.






Bruno Ribeiro.

Um comentário:

  1. Leonardo da Vinci já dizia que o olho é a janela da alma, o espelho do mundo. Será que ele diria o mesmo hoje, vivendo num mundo que nos bombardeia com imagens e informações? Tem horas que prefiro não ver. Ou como disse Wim Wenders, no filme, selecionar o que quero ver com a “moldura” dos meus óculos. Como no cinema. Talvez nos falte realmente uma moldura que nos permita enxergar apenas aquilo que realmente precisamos observar com atenção.

    ResponderExcluir